Seis décadas após seu nascimento, a indústria de fundos de investimentos brasileira tornou-se a maior do mundo em quantidade de participantes e conta com a presença de mais de 16 mil fundos registrados. Ano após ano, esse mercado bate recordes de captação, chegando a alcançar 6 trilhões de reais em patrimônio líquido.
O começo
Não existe um consenso sobre qual foi o primeiro fundo de investimento brasileiro. Alguns citam o Valéria Primeira, uma iniciativa privada do grupo Deltec, como sendo o pioneiro, criado em 1952. Contudo, a grande maioria dos pesquisadores consideram que o surgimento dos fundos de investimentos no Brasil foi fomentado pela atmosfera desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek, que teve início em 1954.
1957
O nascimento da indústria automobilística brasileira brilhava aos olhos de investidores norte-americanos. Foi então que surgiu o Fundo Crescinco (Fundo Brasileiro de Participações Industriais e Comerciais) em 18 de janeiro de 1957, por meio da parceria do grupo Rockefeller com o Banco Deltec.
O fundo se propunha a investir em ações de multinacionais e foi um importante instrumento de acesso ao mercado de capitais, que ainda apresentava uma estrutura muito precária na época, com o Banco do Brasil acumulando as funções do Banco Central e da CVM.
1959
Em novembro de 1959, a Portaria nº 309 do Ministério da Fazenda autoriza a criação dos chamados fundos em condomínio, com um sistema de tributação próprio e a possibilidade de resgate de cotas.
1965
A Lei nº 4.728, denominada lei do Mercado de Capitais, deu início à regulamentação dos fundos em 1965.
1967
No ano de 1967, em meio à ditadura militar que buscava fomentar o mercado acionário por meio de isenção fiscal, foi aprovado o Decreto-Lei 157, que permitiu que pessoas físicas e jurídicas aplicassem uma fração do imposto de renda devido em fundos de ações conhecidos como fundos 157.
Neste período, foram criados cerca de 121 fundos e, em linhas gerais, os valores depositados nos fundos eram destinados às compras de ações e debêntures conversíveis em ações com um prazo de resgate de pelo menos 2 anos.
1971
Os investidores buscavam fundos que permitissem o resgate do dinheiro investido anos mais tarde. Curiosamente, alguns até esqueceram dos valores aplicados.
A demanda artificial criada por conta da isenção de impostos e a falta de fiscalização dos fundos culminou em grandes perdas no crash da bolsa em 1971. A indústria de fundos foi vista com desconfiança por parte dos investidores e os traumas são lembrados até hoje.
1976
Criação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – em 7 de Dezembro de 1976 com a Lei nº 6.385
1979
Em uma tentativa de reerguer a indústria de fundos que padecia das perdas de 71, foram criados os fundos de renda fixa. Os gestores entenderam que os fundos de ações não precisavam ter apenas ações e começaram a incluir títulos públicos e CDBs nas carteiras.
O primeiro fundo com tal característica no Brasil surgiu em 1979, o bem-sucedido CSC7 (Conta Supervisionada Condomínio nº7). Administrado pelo banco Crefisul, dentro de seis meses após sua abertura, já havia captado cerca de 400 milhões de dólares.
1986
Na década de 80, os esforços para combater a inflação também deram outro tom à indústria de fundos. Com a implantação do Plano Cruzado, criou-se uma bolha no mercado acionário brasileiro impulsionada pela valorização de empresas varejistas.
Tentando conter um novo crash da bolsa, em 1986 o Governo autorizou que os gestores usassem 90% do patrimônio dos fundos para aplicação em qualquer ativo, menos em ações. Tal medida encolheu mais um pouco as carteiras dos fundos.
1990
Os anos 90 foram responsáveis por um dos grandes traumas na política econômica brasileira: 18 meses de congelamento de todas as aplicações financeiras (contas correntes, poupanças e fundos de investimentos).
Mas a Era Collor também foi responsável por dar vida a dois produtos importantes para a indústria dos fundos: os FAFs (Fundos de Aplicações Financeiras) – ou fafinhos, como eram conhecidos – que permitiam a uma instituição financeira oferecer fundos de outras instituições, e os Fundos de Fundos, os famosos fundos de investimentos em cotas.
1994
Depois de padecer por anos com a falta de liquidez, falta de regulamentação adequada e alta inflação, em 1994, com a chegada do Plano Real, os gestores de fundos de investimentos em ações se viram obrigados a mudar as estratégias para sobreviver à taxa de juros elevada.
1996
Com a inflação já controlada, a indústria de fundos finalmente teve a ascensão esperada, crescendo 88%, incentivados principalmente pelos fundos de renda fixa que se aproveitavam da alta taxa de juros. Ao fim de 1996, a indústria de fundos contava com cerca de 300 bilhões de reais investidos.
1997
Em 1997, foi a vez de controlar a situação fiscal brasileira. O Ministro da Fazenda da época, Pedro Malan, conseguiu aprovar o pacote 51 e, dentre as medidas, foi criado o famoso imposto “come-cotas”, que visava a antecipação da tributação em fundos de investimentos.
Ao longo dos anos, a indústria de fundos buscou se adequar aos movimentos da economia brasileira. Atualmente, é possível enxergar um ambiente marcado pela autorregulação e pela transparência. Os fundos de investimentos são peças fundamentais para o fortalecimento de qualquer economia.
Como você enxerga o cenário deste mercado para os próximos anos? Deixe seu comentário!