No post “Mudanças de comportamento pós-pandemia”, mostramos que a combinação de juros baixos e inovação tecnológica tem afetado o ambiente de investimentos mundo afora. Hoje, queremos nos aprofundar no assunto e mostrar, por meio de estudos publicados por duas gestoras reconhecidas mundialmente, o QUANTO o ambiente de investimentos foi alterado.
O primeiro é um estudo da gestora Two Centuries Investment publicado no Financial Times no último mês, que demonstra que em nenhum outro momento na história a valorização das ações de empresas com baixa expectativa de crescimento e múltiplos baixos, conhecidas como ações de “valor”, esteve tão defasada em relação às ações de empresas com grande expectativa de crescimento (ações de “crescimento”), como no momento atual. Para gestores como a Two Centuries Investment, cujo processo de escolha dos ativos que compõem o seu portfólio é baseado na aplicação sistemática de regras quantitativas a partir de dados históricos, o momento atual é visto como único na história.
O segundo foi publicado em maio deste ano pela AQR, uma das gestoras mais conhecidas nos EUA pelo uso de uma abordagem sistemática, e sugere que o momento não é apenas único, trata-se de uma situação insustentável de grande “exagero” de expectativas na visão da gestora. Em seu estudo, que vale a pena ser lido com atenção, a AQR testa exaustivamente diversas possíveis hipóteses para o mesmo fenômeno de exagero de expectativas refletido na precificação atual de ações de “crescimento” em relação às ações de “valor”. Historicamente, as ações de “crescimento” são em média 4x mais valorizadas do que as de “valor”. No momento, esta diferença está em mais de 12x que é o patamar mais alto da história. A conclusão é que mesmo levando em conta todas as explicações mais comuns, como as de que “o mundo mudou em função da tecnologia”, para a discrepância observada entre os preços das ações de “valor” e as de “crescimento”, os investidores nunca na história estiveram dispostos a pagar tão caro pelas ações que eles “adoram” e nunca estiveram propensos a pagar tão pouco pelas ações que “não gostam”.
A grande dúvida e o desafio para os investidores agora é saber quando o “muito” se torna “demais” e quando as expectativas se tornam “exageradas”.